Imagine um brasileiro em uma situação corriqueira, como fazendo um pedido em um restaurante. Se ele estiver em Pernambuco, vai pedir macaxeira cozida. Mas, se o cenário for o sul do País, o mesmo prato terá nome de aipim ou mandioca.
Isso porque aipim e macaxeira são variantes lexicais, ou seja, há mais de um vocábulo para designar a mesma coisa, seja por decorrência de restrições geográficas, históricas ou sociais.
Estudos desta natureza não são tão recentes. Desde 1826, com o capítulo contendo dados lexicais de algumas regiões brasileiras, registradas por Visconde de Pedra Branca a pedido do geógrafo Adrien Balbi para integrar o Atlas Ethografique du Globe, que já se mencionou um pouco da diversidade lingüística do País. No entanto, uma propagação mais relevante dos estudos deste porte só passou a ocorrer no século XX, com publicações de Amadeu Amaral, Antenor Nascentes e Mário Marroquim, autores de O Dialeto Caipira (1920), O Linguajar carioca (1922), A Língua do Nordeste (1934), respectivamente. Desde que foram lançadas, essas obras têm contribuído para o auxilio de pesquisas, monografias, artigos, teses que retratam algum fenômeno de fala de comunidades pequenas até análise de grandes centros urbanos.
Assim, o próprio Antenor Nascentes teve a ideia de coletar dados do português falado no Brasil e “mapear” esses dados em uma Atlas. Sua ideia, em 1952deu lugar a projetos locais, que começaram a surgir 11 anos depois com a publicação do Atlas Prévio dos Falares Baianos, por Nelson Rossi e suas colaboradoras. Daí em diante, não se parou mais. Seguiram-se os Atlas de Minas Gerais (1977), Paraíba (1984), Sergipe (1987), Paraná (1994), Região Sul (2002), Pará (2004), Sergipe II (2002) e o mais recente do Amazonas (2004), que já foram concluídos.
Há outra quantia em fase de elaboração ou em planejamento, como os trabalhos sobre a fala dos estados do Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Acre, Mato Grosso, Maranhão, Espírito Santo e Rio Grande do Norte.
Abaixo encontraremos quadros com algumas variações lexicais já encontradas.
NORTE
Item, referencial ou designação | Termos encontrados |
Terreno ou a terra que fica próxima ao rio. | Várzea, igarapé, varje, varja, valja, valje, vaji, vaja, garapé. |
Bêbado. | Bebedeiro, beberão, alcoólatra, cachaceiro, biriteiro, lambiqueiro, papudo ou papaudo. |
Cigarro de palha. | Cigarilho, porronca, tocha, tarugo e tauari. |
NORDESTE
Conceito, item ou referente | Termos encontrados |
Barras coloridas que aparecem no céu, antes ou depois da chuva. | Arco- íris, arco-celeste, arco- da- velha, arco- da- aliança, arco - de - velho. |
Estrela que se desloca no céu e faz um risco de luz. | Estrela cadente, planeta, cometa e zelação. |
Á pessoa que não gosta de gastar dinheiro e, ás vezes, até passa necessidade. | Avarento, sovina (o), seguro, mão apertada, unha de fome, agarrado, arrochado, papagaio no arame, amarrado que nem catarro na parede. |
Osso redondo que fica na frente do joelho. | Rótula, pataca, bolacha, pataquinha, patinho, cotovelo, bolachinha, prato, rodela, carapuça e bolinha. |
Tornozelo. | Rejeito, junta, mocotó, junta do pé, osso de São Severino, osso do gostoso. |
Grão de feijão, no pé antes de serem colhidos. | Bage, bagem, casca, rama, galhos e caule. |
Pessoas que tem os olhos voltados para direções diferentes. | Zarolho, vesgo, estrábico e zanoio. |
CENTRO-OESTE
Item | Termo encontrado |
Rugas | Pé- de- galinha, enrugado, prega, geada, pezinho- de- galinha, pé- de- piru, rusga. |
Pálpebras | Capa- do- olho, capela- do- olho, capela, palpulas, pelinha- do- olho, olho-gordo, papa- do- olho. |
Cílio | Pestanas, cílios, cabelo, assombração. |
SUDESTE
Item, conceito | Termos encontrados |
Pequeno rio de uns dois metros de altura. | Córrego, riacho, lago, riozinho, bisca, brejo, canal, lagoinha, laguinho e valeta. |
Tronco, pedaço de pau ou tábua pela qual se passa. | Ponte, pinguela, passarela, apoio, árvore, gambiarra e viela. |
Foz. | Bifurcação, fluente, beco, braço, cachoeira, curva, encruzilhada, finzinho do riozinho, represa e riacho. |
SUL
Conceito | Termos encontrados |
Ave preta que come animal morto. | Urubu, corvo, abutre, come-carniça, bicho- carniça, corcovado e carniceiro. |
Galpão. | Paiol, garagem, rancho, barracão e tulha. |
Fonte: Sá, Edmilson. A língua que aprendemos, a língua que falamos. Revista Conhecimento Prático - Língua Portuguesa n° 20, 2010.
Postado por: Myrella Araújo.
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